Sofrimento LGBT+

Neste post estou respondendo a algumas das frases que mais ouvi na minha vida, pessoal e profissional. Claro que aqui não tem tudo, é só uma pontinha do que é dito normalmente. Mas meu intuito aqui é trazer a reflexão, em especial familiar, sobre este tema que é normalmente trazido como um problema pessoal, mas na verdade é uma questão social muito complexa e difícil de ser discutida. Te convido a compartilhar com as pessoas que você ama e que acredita que precisem refletir sobre isso.

Antes de tudo, é importante explicar que este é um texto que fala sobre alguns pontos relacionados ao sofrimento emocional comumente vivido pela comunidade LGBTQIAPN+. Cada letrinha da sigla e cada pessoa incluída neste recorte social, tem sua própria experiência única e intransferível, vive desafios diferentes. Este texto não traz aprofundamento de discussões específicas e nem busca representar todos de maneira idêntica. Espero, porém, poder trazer um pouco mais de conforto e reflexão para pessoas que se identifiquem como parte desta comunidade e seus familiares.

"Agora é tudo LGBT!"

Estar se falando mais sobre esse assunto não significa que é todo mundo assim, mas sim que essas pessoas estão finalmente começando a ter mais voz. Existe um lugar de sofrimento na pessoa LGBTQIAP+ que vem de uma solidão quase que intrínseca ao fato de ser quem se é. Essa solidão vem do medo e da negação desse sujeito que foge do que a sociedade aceita como "normal". Isso causa uma série de consequências violentas à pessoa, como a solidão de quem nunca é aceito 100%, e que tem sempre que esconder um pedaço de si para não sofrer ainda mais.

"Na minha família não!"

A notícia de se ter uma pessoa LGBT na família quase sempre surge como uma bomba que gera um grande incêndio que nunca se apaga totalmente. A regra social imposta é: todos nascem heterossexuais e cisgeneros, daí o termo heterocisnormatividade. A partir do momento que alguém dentro da família foge dessa regra, esse alguém tem um problema, está errado, não era assim que era pra ser. Ocorre um luto dentro da família.

"A gente fica triste mas aceita"

Entendo que existam expectativas não supridas e que isso é algo difícil para a família, mas é preciso entender que filhos não são cópias idênticas aos pais e não irão seguir o desejo por eles esperado. Faz parte da vida e do desenvolvimento humano se diferenciar das figuras de referência e compreender a própria maneira de se estar no mundo. Se ter LGBT+ na família te deixa triste, é você quem precisa refletir sobre suas expectativas e entender que isso não é escolha. O que é triste é o LGBT+ ouvir que ele deixa as pessoas que ama tristes por ser quem ele é.

"É preciso ter tolerância"

Tolerar é suportar algo com o qual não se concorda. Não é preciso tolerância, é preciso aceitação. Compreendo que é difícil aceitar algo com o qual não se concorda, só que ser LGBT+ não é questão de opinião. Ao não concordar com algo que a pessoa é, você está dizendo que a existência dela é errada.

"Cada um pode ser o que quiser"

Socialmente falando, não pode. Isso gera consequências, como feridas, que muitas vezes não têm espaço para serem curadas. Essa, frase por si só, pode trazer um julgamento sutil de: "é errado, mas essa pessoa escolheu isso, fazer o que né?" Lembre-se que ser LGBT+ não é escolha. Na verdade, as pessoas têm o direito de serem quem elas são.

"Mas eu fico triste, essa pessoa vai sofrer!"

Sim, na nossa sociedade vai mesmo. Mas mais triste que a sociedade não aceitar é quando a própria família não aceita. Tente trocar essa frase por: vai ser difícil e eu me preocupo, mas você não vai estar só, pois terá nosso apoio.

Eu entendo que a dificuldade de aceitar ou compreender o que está acontecendo não vem de uma má intenção por parte da família, às vezes vem do não conhecimento ou da não compreensão. A questão crucial aqui trazida é: esta pessoa merece ser excluída? Caso essa resposta seja positiva temos um problema muito sério dentro da família, que condiciona o amor a seus membros ao controle dos mesmos. Fica a reflexão de quais são os valores familiares de cada um.

Precisa de ajuda? Me mande uma mensagem pelo botão contato na parte superior desta tela. Estou disponível para te acolher e te escutar, seja você LGBTQIAPN+, um familiar ou seja você quem for. Todos têm direito à escuta, acolhimento e atendimento de qualidade.